quarta-feira, setembro 27, 2006

Eu!


Se eu fosse um mês seria Outubro.
Se eu fosse um dia da semana seria Sábado.
Se eu fosse um número seria 2.
Se eu fosse um astro seria a Lua.
Se eu fosse uma direcção seria Em Frente (olhando para todos os lados).
Se eu fosse um móvel seria uma Cama de Dossel.
Se eu fosse um liquido seria um Chocolate Quente.
Se eu fosse uma pedra seria uma Ónix.
Se eu fosse um metal seria Ouro Branco.
Se eu fosse uma árvore seria um Pinheiro.
Se eu fosse uma fruta seria um Morango (com vinho do porto e açúcar).
Se eu fosse uma flor seria uma Rosa (negra).
Se eu fosse um clima seria um Microclima.
Se eu fosse um instrumento musical seria uma Gaita-de-Foles.
Se eu fosse um elemento seria Água.
Se eu fosse uma cor seria Roxo (para não dizer preto, porque não é uma cor…).
Se eu fosse um animal seria um Lince.
Se eu fosse um som seria um Uivo.
Se eu fosse uma letra de música seria The Killing Moon - Echo and the Bunnyman.
Se eu fosse uma canção seria Two Trees – A Celtic Tale.
Se eu fosse um estilo musical seria 80’s.
Se eu fosse um perfume seria Hugo – Hugo Boss.

Se eu fosse um sentimento seria a Paixão.
Se eu fosse um livro seria O Filho das Sombras - Juliet Marillier.
Se eu fosse uma comida seria uma Fatia de Bolo de Chocolate (do Irish & Co.)
Acompanha por uma Decider de Garrafa (porque lá não há de pressão).
Se eu fosse um lugar seria Sintra.
Se eu fosse um gosto seria Chocolate Negro.
Se eu fosse um cheiro seria o Cheiro da Serra em Tardes Húmidas de Nevoeiro.
Se eu fosse uma palavra seria Maharet.
Se eu fosse um verbo seria Sentir.
Se eu fosse um objecto seria um Livro.
Se eu fosse uma roupa seria um Vestido Preto Comprido, de Veludo e Renda, com Espartilho Incorporado.
Se eu fosse uma parte do corpo seria o Coração.
Se eu fosse uma expressão seria uma Careta.
Se eu fosse um desenho animado seria a Ana dos Cabelos Ruivos.
Se eu fosse um filme seria O Castelo Andante.
Se eu fosse uma forma seria um Crescente.
Se eu fosse uma estação seria o Outono.
Se eu fosse uma frase seria “Para ser grande sê inteiro…”.


*Roubado da Bxana

terça-feira, setembro 26, 2006

Eternal Autumn


So sudden it seemed this tragic vision painted before my eyes
Amidst falling leaves I had found my beloved bloodstained and pale
Falling into the forever so silent
Aware of my presence she turned towards me her agonizing stare
One last breath and she whispered
Everything dies before my tearfilled eyes
Dead and silent, a golden leaf of autumn
Falling before my tearfilled eyes
This withering beauty
This eternal autumn
So silent
So silent
Forest of Shadows

segunda-feira, setembro 11, 2006

Iubesc...


*Mina turns to leave
Dracula holds her by the arm*
Dracula: Do not fear me.
*He steers her into a back room and makes her lie on a couch
He leans over her*
Mina: Stop this! Stop this! God, who are you? I know you!
Dracula: I have crossed oceans of time to find you.
in Bram Stoker's Dracula
^*^

terça-feira, setembro 05, 2006

Tempo de tirar os All Star do fundo do armário...

Sheets of empty canvas, untouched sheets of clay
Were laid spread out before me as her body once did
All five horizons revolved around her soul
As the earth to the sun
Now the air I tasted and breathed has taken a turn
Ooh, and all I taught her was everything
Ooh, I know she gave me all that she wore
And now my bitter hands chafe beneath the clouds
Of what was everything
Oh, the pictures have all been washed in black, tattooed everything...
I take a walk outside
I'm surrounded by some kids at play
I can feel their laughter, so why do I sear
Oh, and twisted thoughts that spin round my head
I'm spinning, oh, I'm spinning
How quick the sun can, drop away
And now my bitter hands cradle broken glass
Of what was everything?
All the pictures have all been washed in black, tattooed everything...
All the love gone bad turned my world to black
Tattooed all I see, all that I am, all that I'll be...yeah...
I know someday you'll have a beautiful life,
I know you'll be a starIn somebody else's sky, but why
Why, why can't it be, why can't it be mine

We belong together...



4 de Setembro de 2006 - Pavilhão Atlântico

LINDO :')

^*^

terça-feira, agosto 29, 2006

O Descanso da Guerreira

Isla Mágica - Sevilha










Praia de Santa Eulália - Albufeira

Dias Medievais - Castro Marim

sexta-feira, agosto 11, 2006

Onze...


Quando te vi amei-te já muito antes:
Tornei a achar-te quando te encontrei.
Nasci pra ti antes de haver o mundo.
Não há cousa feliz ou hora alegre
Que eu tenha tido pela vida fora,
Que o não fosse porque te previa,
Porque dormias nela tu futuro.

E eu soube-o só depois, quando te vi,
E tive para mim melhor sentido,
E o meu passado foi como uma 'strada
Iluminada pela frente, quando
O carro com lanternas vira a curva
Do caminho e já a noite é toda humana.

Quando eu era pequena, sinto que eu
Amava-te já longe, mas de longe...

Fernado Pessoa

quinta-feira, agosto 10, 2006

A Voz dos Deuses

"Os deuses falam aos homens com vozes diferentes, conforme eles são capazes de entender. Os jovens ouvem essas vozes no estrépito das batalhas ou no acto do amor, os velhos aprendem a escutar de outra maneira."

Há já bastante tempo que, alguém especial, tinha aguçado a minha curiosidade em relação ao livro A Voz dos Deuses de João Aguiar, mas há sempre livros ansiosos por saltar da prateleira, bem como outros mais malandros que nos fazem olhinhos das estantes das livrarias, feiras ou mesmo hipermercados, acabando aqui o pobre leitor por sucumbir aos seus encantos, deixando outros possíveis futuros amores para segundo plano. Contudo, finalmente chegou o dia em que o feliz contemplado seria mesmo o grande Viriato, e assim terminei de devorar este livro há três diazitos.
É realmente tão bom quanto eu pensava, e fiquei agradavelmente surpreendida quando me apercebi que uma peça que adorei ver, há uns dois anos atrás, foi baseada neste mesmo livro. E já agora, para além de sugerir a leitura do livro, sugiro também o visionamento da peça, porque é realmente interessante, e o cenário é fantástico: o místico Castelo de Almourol (bem, o cenário não é propriamente o castelo, sendo este, antes o pano de fundo, o palco em si é o anfiteatro ao ar livre que fica logo ali, na margem do Tagus).
Infelizmente não tenho fotos dessa belíssima noite, já que esta foi o final de um fim-de-semana em grande, e como tal a máquina fotográfica meteu baixa e recusou-se a trabalhar mais, mas garanto que vale a pena, que mais não seja pela espantosa ceia servida no intervalo, em que não faltam as malgas de vinho tinto e as sandes de bácoro! ;)
Esta ideia original deve-se ao grupo Fatias de Cá, que este ano repete a façanha, tendo outros espectáculos pelo país. Pessoalmente, estou bastante inclinada para dar um salto ao jardim Botânico de Coimbra, e ver a Inês.

http://www.fatiasdeca.com/

^*^

segunda-feira, agosto 07, 2006

Insónia

Este texto foi escrito, há já uns meses, por "encomenda" para um outro blog que partilho com uns amigos. O tema surgiu em conversa, quando todos comentávamos que já haviamos passado por estas situações desesperantes. A noite de ontem foi mais uma noite de semi-insónia, mas desta vez devido ao calor abrasador, de qualquer das formas recordou-me um pouco estas palavras.

Está calor…
Afasto as roupas de cima do meu corpo, destapo-O também, um murmúrio, um estremecer, sinto a companhia do Seu acordar. Mas o corpo imobiliza-se no canto da cama, a respiração estabiliza, e os sonhos voltam a Ele.
Sento-me, a cabeça pende para trás, e um ruído de tédio escapa-se do fundo do meu egoísmo. Olho para aquela sombra enroscada ao meu lado, as costas nuas e quentes desprezam a minha insónia.
Levanto-me e vou até à janela, esta range quando a abro sem cuidado, o frio húmido da noite choca com a minha pele quente, o chão gelado por baixo dos meus pés, o toque metálico do caixilho…sinto a incontornável certeza da minha presença ali naquele momento, onde não quero estar, onde não quero ser.
O frio empurra-me de novo para a cama, quase anseio pelo quente das pernas Dele, aquecer-me Nele, adormecer Nele…Mas o momento seguinte apaga esse conforto, não quero dormir, não quero ficar, quero falar, gritar, chorar, amar…não quero ficar quieta.
Sento-me de novo, mas desta vez com brusquidão propositada, o colchão resmunga preguiçosamente, mas Dele não sai um só som. Sem pudor chamo-O…sem resposta…talvez não me ouça enrolado no Seu sono perfeito. Deito-me e olho o tecto, não tento mais quebrar esse encantamento…neste momento Ele não é meu, e eu estou só.
^*^

quinta-feira, agosto 03, 2006

Maharet & Os Celtas

O fim-de-semana passado resolvemos cometer o “excesso” de percorrer cerca de 500 km para ir assistir a um festival de música celta, do qual não conhecíamos a maioria das bandas. E assim ficou decidido que iríamos ao CeltiRock 2006. A principal razão que nos levou até ao Minho foi realmente esta, mas uma vez lá, perante a beleza e história daquela região, acabou por, inevitavelmente, se tornar secundária.
Assim, arrancamos daqui sexta-feira depois do trabalho, e diversos atrasos, provocados essencialmente por mim…e chegámos à Pousada da Juventude de Ponte de Lima, já a noite ia avançada, e já o segurança devia estar no seu segundo sono. A Pousada consiste nuns quantos paralelepípedos de betão, empilhados em cima uns dos outros, e os quartos parecem bunkers com janelas panorâmicas. Pessoalmente, a arquitectura não me agradou minimamente, com excepção da janela que substituía por completo uma das paredes do quarto, e nos oferecia assim um quadradinho da verdejante paisagem minhota. Contudo, trata-se duma pousada recente, e como tal as condições, de um modo geral são boas (pelo menos os colchões não rangiam de cada vez que eu mexia um dedo do pé, como acontece em certas e determinadas PJ’s deste Portugal “a fora”).
A manhã de Sábado passou-se por Ponte de Lima, a Vila mais antiga do país, que é muito bonita, e a qual gostaria de visitar com mais calma. Após o almoço, seguimos caminho supostamente para Montalegre, onde decorria o Festival, mas o passeio acabou por ser bem mais longo. Fomos até Lindoso, onde visitámos o Castelo, e fiquei completamente maravilhada com a (mini) Ponte Levadiça. Saímos depois de Portugal, para voltarmos a entrar na zona da reserva natural, onde demos de caras com uma cascata fantástica de água verde e vários “andares”, apinhada de pessoas a tomar o seu banhinho, que pareciam mesmo pinguins (não sei porquê, mas pareciam…), pena não podermos parar. Mais à frente fomos abordados por uma vaquita que andava meio perdida e procurava o caminho para a cascata.
O passeio pelo meio do Gerês foi fantástico, paisagens lindas, e miradouros que nos deixam ver TUDO. Aproveitámos ainda para dar uma voltinha a cavalo pelo meio da serra, nuns garranos semi-selvagens (dito desta forma até parece que domámos uma manada de animais selvagens e poderosos…nada disso, assemelhavam-se mais a póneis preguiçosos, mas nem por isso o passeio deixou de ser realmente muito agradável).
Chegámos a Montalegre já no início da noite, e como julgávamos (pronto..eu estava mal informada) que o festival era perto do Castelo, fomos até lá. Do festival, nem vê-lo, apenas ouvi-lo ao longe, mas o Castelo era também bastante bonito, não tendo sido por isso, uma subida em vão. Jantámos um banquete à boa moda do norte, com muita carne mal passada de grandes proporções (e de preço bem inferior ao praticado por terras mais a sul). Finalmente entrámos no Festival, foi uma desilusão ao nível da afluência, porque estava realmente pouca gente, mas do espectáculo em si não tenho nada a apontar, os Celtic Express com uma sonoridade mais irlandesa abriram a noite, e a eles seguiram-se os portugueses Mu, que foram uma agradável surpresa, uma mistura de vários instrumentos, com um som extremamente animado que dava uma vontade quase irresistível de dançar. Aconselho vivamente ao seu consumo. ;)
Infelizmente não pude ficar até ao fim, porque a noite já ia alta, o dia tinha sido longo, e os meus companheiros de viagem já ansiavam pelos seus respectivos bunkers.
No dia seguinte almoçámos em Guimarães, onde ainda tivemos tempo de passear um pouco e visitar o castelo, também de construção bastante interessante, e com pormenores engraçados, especialmente na torre principal, onde tivemos de subir umas escadas bem estreitinhas e passar por um postigo minúsculo para chegar ao exterior.
Lanchei em Vila Nova de Gaia à beira mar, onde fomos visitar uns familiares, e voltámos então para casa, já não tendo havido oportunidade de passar pela Festa Medieval de Santa Maria da Feira, o que me deixou um pouco “desconsolada”, uma vez que já ando com saudades do mercado de Óbidos, onde este ano passei uns bons bocados…
Com saudades, também, fiquei do Minho e especialmente do Gerês, espero ter oportunidade de lá passar uns diazinhos (entenda-se, mais do que dois...), em breve, para poder explorar à vontade aquela zona maravilhosa.

Aqui fica o link do Festival para quem tiver interesse e, quem sabe, lá quiser dar um saltinho para o ano:
http://www.celtirock.com/
^*^

segunda-feira, julho 31, 2006

do Monte da Lua

Queria escrever um texto que explicasse a razão de ser do nome deste blog. Porém, como tantas vezes acontece, as palavras fugiram da "dona", e cumpriram a sua própria vontade. Assim, do roçar da lapiseira no papel, salpicado por reminiscências da minha adolescência, nasceu "isto" passado algures nos anos 90, antes do suposto bug e do euro...

O comboio estacou, como habitualmente, com um solavanco. Perante o desequilíbrio de alguns o seu desdém evidente, conhecia todo o percurso com a familiaridade adquirida em anos. O cais terminal não chegou a encher-se com os viajantes, eram poucos os que chegavam àquela hora.
Ela seguiu rumo à vila, andando devagar, as mãos nos bolsos do casaco vermelho, que de tantas vezes lavado roçava já o cor-de-rosa. Do
walkman saía o som da nova rádio que mais uma vez lhe dizia This is me with another nervous breakdown…a letra tocava-a, mas a voz cansava-a terrivelmente, após ouvi-la vez após vez ao ritmo de uma música por hora em qualquer frequência sintonizável. Mudou para o modo de cassete, sorriu, era realmente um dos seus dias, o frio não chegava a incomodar, os turistas tinham regressado aos seus buracos, e enquanto a neblina rodeava a muralha, uma gota sorrateira beijou-lhe a testa e escorreu devagar acariciando-lhe a cara. Cobriu os cabelos ondulados com o capuz, e apressou o passo inconscientemente à medida que chuva se tornava mais forte, não por a sentir desagradável, mas por não querer perder nada deste momento perfeito. Let me show you the world in my eyes…
Estava concentrada no esforço mental necessário para conseguir coordenar o seu corpo de modo a que o pequeno eeyore, pendurado por um fio no fecho da sua mochila, batesse alternadamente numa perna e depois na outra, à medida que avançava, quando o viu… Estava sozinho, como sempre aliás, parado do outro lado da estrada, junto ao muro, com a chuva ensopando o cabelo comprido, a fumar um cigarro de aspecto duvidoso, miraculosamente aceso. Parecia completamente integrado no cenário, quase não sendo possível estranhar a sua presença estática ali, debaixo da chuva. O seu olhar era, como o resto da sua postura, inequívoco, como se não houvesse outro objecto digno de contemplação, o carro que passava entre ambos, os turistas resistentes de sotaque alegre e indecifrável, o relâmpago tímido que tornou o ambiente no cliché que ele com certeza desejaria.
Afinal a tarde não se mostrava assim tão perfeita, percorrer os caminhos ladeados de árvores da serra acompanhada por uma forte trovoada não lhe parecia uma ideia agradável. Desligou com esforço o magnetismo daquele olhar, mas afinal não passava de mais um
poser de ar arrogante, com intuitos de intimidar adolescentes saídas do liceu, admirava-a que não ostentasse nenhuma qualquer imagem sangrenta na t-shirt preta, mas adivinhava a forma de um pentagrama invertido sustentado por um fio junto à pele, mais um dos satânicos que escolhia a serra como local de culto, ignorando o facto desta estar coberta por um manto de magia branca. Ridículo…
Os seus pensamentos levaram-na dali e, quando de novo tomou consciência dos seus passos, já começara a
subir. A calma prendia o seu andar, tornando-o mais lento, experimentava sempre esta mesma sensação quando subia aquele caminho, sempre como se fosse a primeira vez. Já nem a afligia a ideia da voz aguda da avó E o chapéu de-chuva?! Ficou outra vez na escola?! E essas calças a arrastar pelo chão, cheias de lama! Nunca me deixas fazer uma bainha… Tu não me digas que vieste outra vez por aquele caminho! Quantas vezes já te disse para não vires por ali?! Não, nem isso, até chegar à velha casa da avó tinha todo um caminho mágico para percorrer, e esse…esse seria imaculado.
Apercebeu-se, então, que estava envolta em silêncio há já alguns minutos, o lado A da cassete tinha terminado. Hesitou antes de a voltar, o “silêncio” da serra estava apinhado de sons misteriosos e agradáveis que a faziam sorrir, mas nesse momento uma sensação estranha, desconhecida para si (pelo menos desconhecida no que dizia respeito àquele local) invadiu-a apanhando-a de tal modo de surpresa que sentiu os seus olhos arderem confusos, e as suas pernas voltarem-se geridas por uma vontade de correr de novo até ao centro da vila. *medo* Nunca tinha experimentado tal sentimento enquanto rodeada por aquelas árvores, passada a igreja todo o caminho era seu, entrava num mundo próprio e familiar, o grande carvalho que a protegia da chuva, a pedra lisa que apoiava a sua subida, a aranha que abanava a teia num aceno, o duende azulado de orelhas pontiagudas que a olhava da penumbra fora do caminho, e no momento seguinte era a memória duma presença sumida…
Agora o carvalho parecia barrar-lhe o caminho, atirando os ramos contra si arremessados por um vento que mal se fazia sentir, escorregou na pedra que tão bem conhecia, a teia oscilava mas não num aceno, antes numa luta vã de um pequeno ser alado que ansiava viver, e nem o ansioso duende azul exibiu a cara simpática e astuta, no seu lugar um movimento rápido e inumano de uma sombra esguia e alta que se desvaneceu entre a folhagem densa.
Não! Não! Não! Este sentimento não se iria instalar aqui! Não em si, não no seu lugar mágico! Nunca!
Virou a cassete. Os sons hoje não se mostravam tão agradáveis?! Pois trazia a sua própria banda sonora, não necessitava da voz dos pássaros serranos para se sentir feliz, a sua música era o suficiente, no seu mundo era Ela quem ditava as regras!
She’s dressed in black again And i’m falling down again, Down to the floor again, I'm begging for more again But oh what can you do When she's dressed in black…
Um sorriso de novo, mas não tão confiante, não tão verdadeiro e muito menos duradouro. Não se apercebera do momento em que o frio se tornara desagradável, com a chuva forte, apesar da copa das árvores quase formar um tecto perfeito, a ensopá-la deixando enregelar a sua paz, e trazendo à superfície sensações que até então lhe pareciam tão distantes.
Percorreu o caminho com dificuldade, pois o carreiro fora engolido por uma escorregadia corrente pastosa, os ténis de camurça enchiam-se de lama e os pés perdiam a sensibilidade à medida que o frio lhe penetrava na pele. Concentrada nos próprios passos para evitar escorregar, e tendo aumentado o volume do
walkman de modo a não escutar nenhum outro som, alheara-se completamente de tudo excepto o preciso lugar que pisava, quando uma presença inequivocamente real a surpreendeu. O rapaz de negro olhava-a um pouco à frente no caminho.
Uns olhos escuros e ternos fitavam-na sem curiosidade, quase transmitia confiança, não fosse o esgar trocista da sua boca. Percebeu que ele esperava algo, o susto prendera-lhe a mente numa espécie de esquema preguiçoso, precisando agora seguir alguns passos simples para o seu interior retomar o ritmo saudável. Respirou devagar, olhando em volta, estavam sós, nem mesmo a presença negra e esguia, que parecia acompanhá-la desde o velho carvalho, se mostrava. Tirou os
phones, e enfrentou-o com a sua indignação pois este era, sem dúvida, o Seu caminho!
O carro está na estrada principal. Anda, eu levo-te. O olhar obstinado que lhe entregou de seguida teria sido suficiente, mas o desdém no modo como seguiu caminho, afastando-o com firmeza, confirmou a sua intenção de continuar só, apesar da tentação evidente de um carro confortável, quente e seco…um escudo aparente contra os estranhos medos soltos naquela tarde irreal.
Não olhou para trás não quis comprovar o que sabia, que ele se afastava do caminho, deixando-a de novo entregue àquela perversa simetria do seu mundo.
O caminho pareceu-lhe estranhamente longo, e o céu tornara-se tão escuro, que quase podia jurar que já era noite, apesar disso não fazer qualquer sentido, tendo em conta as horas a que saíra da escola. Ao longe o velho casarão da avó, uma luz inconstante chamava-a da janela junto à roseira, dando-lhe força para percorrer os últimos metros, antecipando com prazer o momento em que molharia o soalho escuro com a chuva que trazia no seu corpo, largaria a mochila no
hall, pegadas cansadas a seguiriam até ao tapete felpudo junto à lareira, onde se sentaria perante a incrédula voz da avó, preocupada consigo e com o tapete, levantando-se da velha poltrona castanha, gasta pelo tempo, e seguindo directa para a cozinha para preparar chocolate quente e torradas, enquanto resmungava qualquer coisa como ela ser uma desmiolada e dever vestir umas roupas secas. E assim embalada pelo trepidar da madeira e pela voz aguda da avó, enroscar-se-ia no tapete branco e iria dançar com as fadas de asas vermelhas que rodopiavam junto ao fogo…
O céu já não lhe parecia tão escuro, aparentemente a chuva tinha parado de cair e apercebeu-se, então, que a música continuava ecoando junto aos seus ouvidos, o que indicava que não havia passado tanto tempo assim desde que iniciara a subida.
O portão estava aberto, não estranhou o carro preto estacionado junto à fonte, procurou rapidamente a chave, ansiando apenas pelo calor bafiento do casarão azul. Rodou a chave e a porta cedeu no mesmo momento, não estava trancada. Um bafo quente abraçou-a ao entrar, os olhos arderam-lhe com a sensação de pertença que ali sentiu, e que estranhamente lhe havia fugido durante todo o caminho. Deixou a água escorrer do seu corpo para aquele chão que pisara tantas e tantas vezes. Fechou a porta atrás de si e largou a mochila num canto, olhando-a com uma vaga apreensão, os livros estariam sem dúvida arruinados. Saboreou cada passo que a aproximava mais da sala quente, não se importando com as pegadas húmidas que deixava atrás de si. A sala exalava um calor agradável apesar do lume ser recente, fitou a lareira com uma ansiedade crescente de sentir o seu ardor no corpo. Descalçou os ténis ensopados, e passou os pés pelo tapete felpudo e morno pela proximidade das chamas. Sentou-se com as pernas debaixo de si, o olhar perdido no fogo procurando as fadas de asas vermelhas…a música parou e o click indicando o final da cassete trouxe-a de volta à sala.
Sabes que não podes voltar aqui, não sabes? A voz soou trémula mas meiga, o rapaz de negro fitava-a da poltrona de cabedal castanho, o esgar trocista dera lugar a um sorriso triste, e o olhar partilhava a mesma dor. A avó não volta, pequenina. Temos de aprender a viver com isso. Levantou-se devagar e passou-lhe a mão pelos cabelos molhados, não fez qualquer menção à roupa ensopada, mas preparou chocolate quente e torradas.
As fadas não ficaram muito tempo nesse fim de tarde, e ela também partiu cedo. Fechou a porta, trancando-a bem…Puxou o capuz vermelho para cima e entrou no carro preto.
^*^